Artesanato

O concelho de Barcelos é um território com uma identidade cultural e etnológica muito forte decorrente da variedade de artes e ofícios, dos quais se destaca pela sua importância a olaria. Efectivamente o trabalho no barro ganhou tal relevância ao longo dos séculos que se tornou indissociável da história, passada e presente, desta região e das suas gentes.

E se, de entre todas as artes tradicionais, a olaria tem lugar de destaque pela sua inegável ligação à terra e ao homem, a olaria de Barcelos comprova e consolida essa importância, não só pela quantidade e qualidade de peças aí produzidas, mas também pela importância económica e social que esta actividade sempre teve ao longo dos tempos. Foi assim que se construiu uma tradição regional, alicerçada na terra e moldada pelo talento dos homens e mulheres que lhe dão forma. As Louças de Barcelos, como vulgarmente são conhecidas são um atributo de identidade que ao longo dos séculos difundiram e disseminaram o nome deste concelho e promoveram a empregabilidade e sustento de centenas de famílias que tinha nas artes do barro o seu sustento. Por esse país fora, nas feiras semanais, nas feiras de ano, nas romarias, etc., o nome de Barcelos era difundido por esta gente simples que calcorreava as praças das cidades a vender as louças, que transportavam a pé ou em carro de bois, conferindo-lhe uma notoriedade que se prolongou no tempo como uma marca de identidade de uma comunidade, de um território e de uma cidade, ao ponto de o nome Barcelos, não mais se poder dissociar deste contexto sócio-económico.

O Figurado, produção subsidiária da olaria, era a designação adoptada para as peças de estatuária de expressão popular, produzidas na região de tradição oleira do actual concelho de Barcelos, onde cabiam desde as pequenas peças modeladas integralmente à mão, até às peças produzidas em pequenos moldes ou com técnicas mistas usadas nesta produção. Pequenas peças que, inicialmente, ocupavam os espaços vazios dos fornos nas cozeduras das peças de olaria, e que podemos associar aos brinquedos de antanho, mas que serviam paralelamente como forma de aproveitar o resto de barro e as cozeduras das louças, para fazer mais umas peças para vender nas feiras e aumentar o rendimento familiar. O que agora cabimentamos como “arte” outrora era a forma do povo sobreviver, por isso, arte mais que acto criativo para os artesãos barcelenses e seus antepassados é um acto cultural que passou de geração em geração como Herança e identidade. E assim nasceu uma produção que, pretendendo ser brinquedo, se revelou símbolo identitário de uma região, fruto da capacidade única dos seus barristas de recriar o real, criando um imaginário. Tal é a importância que este bonecos ganham que em meados do século XX, esta produção ganha relevância com a obra de mestres barristas como Rosa Ramalho, Rosa Côta, Mistério, Maria Sineta, Ana Baraça e tantos outros que fizeram do Figurado de Barcelos uma das mais importantes produções da arte popular portuguesa enaltecendo o legado de artistas como Rosalina Pereira, Manuel Valada, Francisco Branco, João Côto e António Côto e tantos outros que fizeram da olaria e das artes do barro, a sua forma de sobreviver.

O Figurado, além de uma forma de expressar ao mundo o modo de pensar, sentir, viver e evoluir de uma comunidade evidencia, ainda, a forma como os artesãos de cada época representam o quotidiano do seu tempo. Foi a partir desta produção que se criou o mais conhecido símbolo de Portugal e do concelho de Barcelos – O galo, também ele embaixador do concelho e revelador de uma identidade histórica de um centro urbano desde tempo imemoriais ligado à peregrinação a Compostela.

O Figurado e a Olaria em virtude deste contexto etno-social específico são Produções Certificadas e Protegidas pelo sistema de certificação existente em Portugal.

Mas a riqueza do concelho não se fica pelas artes da olaria e figurado e alarga-se aos bordados de crivo da Carreira, aos bordados, à tecelagem, aos trabalhos em madeiras e aos trabalhos em ferro. Todas estas produções marcam a identidade de um concelho com um contexto sócio-económico muito ligado à arte popular, fruto de um saber enraizado na sociedade local e na relação desta com o meio. Quando falamos de Barcelos, naturalmente o tema artesanato surge lembrando um território de homens e mulheres simples que a partir das suas mãos e imaginação criaram peças de grande valor cultural que marcaram o quotidiano de cada tempo e que hoje são marcas de identidade deste concelho. Uma tradição que mais do que um acto de criação foi ao longo do tempo um acto de necessidade e de sobrevivência, pois as famílias que não possuíam terras tinham no trabalho manual e artesanal o seu sustento, fosse nas cerâmicas, nas madeiras, nos ferros, no bordado ou na tecelagem. Um trabalho duro, feito quase sempre sem meios, sem recursos, em condições precárias e em oficinas humildes, mas com a inspiração e mestria do saber fazer que de geração em geração fez desta terra uma terra de artesãos, e se é certo que a Olaria e a Cerâmica marcaram etnológica e socialmente a história de Barcelos, as outras produções foram e são também elas marcas de identidade deste vasto território.

O artesanato é por isso património material e imaterial ligado às produções artesanais de valor inestimável. É também uma forma de arte popular e, especialmente, um item de identidade dos territórios. Não pode por isso ser olhado apenas como uma reserva ou herança do passado, e menos ainda, como uma recordação desse mesmo passado, mas antes como um activo que faz parte do presente, e acima de tudo, como um vector de identidade que deve ser transportado para o futuro como bandeira de identidade e de diferenciação cultural no contexto cada vez mais globalizado em que vivemos.

O concelho de Barcelos é atualmente ao nível do Norte de Portugal um dos territórios com mais artesãos, distribuídos por diversas produções artesanais como a olaria, o figurado, a cerâmica tradicional, os bordados de crivo, os bordados e tecelagem, os trabalhos em madeira, os trabalhos em ferro e latoaria e ainda outras artes como o trabalho em couro e artesanato contemporâneo. Em termos brutos, são muitas dezenas de artesãos em exercício distribuídos pelas diversas produções artesanais concelhias, com preponderância natural para o olaria e figurado, que fazem do território afecto ao concelho um verdadeiro Museu Vivo da arte popular portuguesa e um factor de identidade de Barcelos e do nosso país no Mundo.

O artesanato como parte integrante da cultura barcelense é uma forma de expressão inspirada nos mais variados temas, necessidades e formas do quotidiano e espelho de um sentido criativo ímpar de uma comunidade artesanal muito forte que faz deste concelho – Capital do Artesanato.

 


 

O Município de Barcelos foi distinguido internacionalmente com o Prémio Europeu de ‘Destino de Turismo Cultural Sustentável’ 2019, promovido pela European Cultural Tourism Network , na categoria de Contribuições das Indústrias Culturais e Criativas (ICCs), com o tema “Contribuições do artesanato e da arte popular como caminhos para um turismo mais sustentável”.   Decorrente do facto de o Município  Barcelos estar envolvido numa série de ações e projetos que se destinam expressamente a impulsionar o setor criativo e a fortalecer a sua interacção com o setor cultural e turístico, um trabalho, que  de igual modo, aposta na capacitação dos agentes locais para o valor do turismo criativo como força motriz do território.

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