O artista plástico Agostinho Santos inaugura amanhã, 24 de julho, pelas 17h30, no Espaço Cultura, em Barcelos, uma exposição antológica do trabalho produzido nos últimos 15 anos e que o próprio descreve como “um itinerário por temáticas que perturbam a maioria das pessoas”. São mais de uma centena de obras de pintura, desenho, escultura e cerâmica, onde se destaca, também, a influência inconsciente da linguagem do figurado de Barcelos na criação artística do autor.
Nesta exposição, intitulada “Entre o Céu e a Terra e o Paraíso pelo Meio”, Agostinho Santos reúne algumas das séries mais significativas que criou nos últimos anos. Nelas aborda temas como a injustiça, a guerra, as desigualdades sociais, a miséria, o drama dos sem-abrigo, as crianças com fome e outras monstruosidades que afetam a humanidade.
Uma abordagem temática à qual não é estranho o trabalho desenvolvido por Agostinho Santos ao longo da carreira de jornalista e na qual experienciou, por opção própria, algumas das condições humanas mais dramáticas da cidade do Porto. “Fui sem-abrigo, mendigo à porta da Igreja dos Congregados, quis experimentar na primeira pessoa o que era essa vida de miséria para poder contá-la no jornal”, recorda.
“Não sou o pintor que sou se não fosse o jornalista que fui”, confessa, por isso, o artista plástico, que é também investigador e curador independente, além de diretor da Bienal Internacional de Arte de Gaia, coordenador do Projeto Onde Bienal e presidente do conselho de administração da Artistas de Gaia – Cooperativa Cultural.
Com mais de 150 exposições individuais e presença em mais de 500 mostras coletivas, em Portugal e no estrangeiro, Agostinho Santos realça a influência que a pandemia teve no seu trabalho desde então. É nessa altura que aparece na sua obra a figura do “monstro” da Covid-19, representado e interpretado como um gigante terrível e temível que causou à humanidade verdadeiros dramas, alguns até fatais.
“Foi uma tentativa de me auto-proteger, através da interpretação da pandemia com uma série de monstros”, explica o autor que reconhece “a relação inconsciente” destes trabalhos com o figurado de Barcelos e os monstros de Rosa Ramalho. No fundo, diz, “esta é uma pintura da inquietação”.
Agostinho Santos – ele próprio um apaixonado e colecionador do figurado de Barcelos – fez, por isso, questão de juntar, nesta exposição, diversas peças do Museu da Olaria de Barcelos, apresentadas ao público junto a esculturas do autor natural de Vila Nova de Gaia.
A exposição “Entre o Céu e a Terra e o Paraíso pelo Meio” resulta de um convite do Pelouro da Cultura do Município de Barcelos a Agostinho Santos e pode ser visitada até 19 de setembro, no Espaço Cultura, de segunda a sexta-feira, das 9h00 às 12h00 e das 13h00 às 17h00.