O Município de Barcelos distinguiu, ao final de tarde de ontem, oito personalidades com as Medalhas Honoríficas de grau ouro e grau prata. Foi o momento alto da sessão solene que assinalou as comemorações do 97.º aniversário da elevação a cidade.
O barcelense Pedro Costa Gonçalves – professor catedrático, advogado, investigador e atual diretor da Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra – foi distinguido com a Medalha de Honra da Cidade (Grau Ouro) pelo trabalho desenvolvido nas áreas da Educação, Ciência e Investigação.
A exemplo das restantes, a distinção foi entregue pelos presidentes da Câmara Municipal de Barcelos, Mário Constantino Lopes, e da Assembleia Municipal, Fernando Santos Pereira.
As Medalhas de Mérito (Grau Prata) foram atribuídas à artesã Ana Baraça, aos artistas plásticos Carlos Basto e Paulo Vilas Boas, ao professor catedrático Carlos Costa, ao historiador galego Celestino Lores Rosal, ao etnógrafo Eugénio Lapa Carneiro e ao sacerdote e jornalista Padre Manuel Vilas Boas.
Falecida em 2007, Ana Baraça foi distinguida a título póstumo, sendo reconhecida como uma das mais talentosas e influentes criadoras do figurado barcelense e referencial de uma das famílias mais consagradas da arte popular – os Baraças.
Também a título póstumo, foi distinguido Carlos Basto, pelo seu trabalho artístico ímpar e, também, pelo valioso contributo que deu para o dinamismo cultural de Barcelos, onde chegou a ser vereador da Cultura.
Igualmente a título póstumo, o investigador, colecionador e etnógrafo Eugénio Lapa Carneiro, falecido em 1999, foi homenageado pelo trabalho desenvolvido nas áreas cultural e da defesa do património. Em particular, pelo legado que deixou no domínio da etnocerâmica e enquanto diretor do antigo Museu Regional de Cerâmica, atual Museu de Olaria de Barcelos.
O pintor Paulo Vilas Boas, também já falecido, recebeu a Medalha de Mérito pelo contributo para as Artes Plásticas e o indelével legado artístico que deixou na cidade, destacando-se as obras com referências às figuras e tradições minhotas.
Natural de Barcelos, Carlos Costa é professor catedrático na Universidade de Aveiro, onde dirige o programa doutoral em Turismo. A distinção que recebeu do Município de Barcelos visou destacar o seu brilhantismo académico, que o coloca entre os dois por cento dos cientistas mais citados do mundo e entre os 50 educadores mais influentes do planeta na área da Gestão do Turismo.
Também com um papel importante para o turismo, o galego Celestino Lores Rosal recebeu a Medalha de Mérito de Barcelos pelo trabalho que tem desenvolvido no estudo, promoção e dinamização dos Caminhos de Santiago, com especial relevo para o Caminho Central Português.
Com um percurso de vida também notável, o Município de Barcelos distinguiu, ainda, o Padre Manuel Vilas Boas, natural de Barcelos e cofundador do emblemático programa 70×7, da RTP, fundador da Cooperativa Logomedia (atual Agência Ecclesia) e voz familiar na TSF, onde atualmente realiza o programa “Rostos e Rumos”.
Após a entrega das distinções honoríficas, o presidente da Câmara Municipal, Mário Constantino Lopes, destacou o papel dos homenageados na promoção de Barcelos em Portugal e além-fronteiras.
Na sua intervenção, o autarca recordou as origens de Barcelos, destacando tratar-se de uma cidade “onde a tradição convive em perfeita sintonia com a inovação”, preservando as suas raízes e, ao mesmo tempo, abrindo “portas novas para os tempos vindouros”.
Mário Constantino Lopes deu como exemplo a recente recuperação da relação histórica da cidade de Barcelos com o seu rio, graças às recentes aberturas do passadiço pedonal e da ecovia do Cávado.
“Precisamente quando a nossa Ponte Medieval faz 700 anos, a cidade passou a olhar para o rio como um local de lazer, de contemplação, um local com passado, mas agora com presente e futuro”, disse.
“Qualidade” foi, aliás, considerada por Mário Constantino Lopes como “a palavra-chave para o presente e futuro de Barcelos”, deixando, a propósito, uma reflexão: “de que vale uma cidade com mais pessoas, mais prédios e mais vida se não tiver qualidade para quem aqui habita e, também, para quem nos visita?”.
Neste contexto, enumerou alguns exemplos, como “o fecho da Circular Urbana de Barcelos, com a construção do nó de Santa Eugénia/Gamil, os avanços decisivos para a construção do novo Centro Hospitalar de Barcelos, o retomar da construção da rede de saneamento básico, o programa Novos Caminho, para acabar com as ruas de terra batida em todo o concelho e, ainda, porque também é qualidade, a renovação e alargamento do Acordo Coletivo de Trabalho com todos os sindicatos dos trabalhadores do Município, salvaguardando os seus direitos”.
No final da sua intervenção, Mário Constantino Lopes fez, ainda, questão deixar uma palavra de homenagem e agradecimento às três corporações de bombeiros do concelho, pelo altruísmo e espírito de sacrifício demonstrados no combate aos fogos durante o difícil mês de agosto.
“Há 97 anos Barcelos não se tornou cidade apenas por decreto. Tornou-se cidade porque já era e é, no seu caráter, uma comunidade organizada, resiliente e unida. A melhor prova disso são as nossas corporações de bombeiros. Duas delas já centenárias e cuja história se entrelaça com a da própria cidade. Neste último dia de um mês particularmente difícil para os bombeiros, não só de Barcelos, mas de Portugal inteiro, expresso aqui o meu profundo obrigado”, disse.
Na sessão, interveio ainda o presidente da Assembleia Municipal de Barcelos, que aproveitou a ocasião para destacar os feitos do passado e a importância de “ouvir e respeitar os anseios da população”. Fernando Santos Pereira realçou que “o futuro é prosseguir o desígnio de mudança para honrar a herança que recebemos”.
Numa cerimónia repleta de significado, que abriu com um momento musical pela fadista barcelense Carla Cortez, com o tema “Fado Barcelos”, houve ainda lugar para um momento de poesia e vídeo por Daniela Matos Leite, com o poema “Nasci Aqui”.
Antes da sessão solene, foi inaugurada a exposição “Carlos Basto – Aguarelas de Barcelos”, patente no Salão Nobre dos Paços do Concelho.
As comemorações dos 97 anos da elevação de Barcelos a cidade terminaram, à noite, com o espetáculo “Fado Barcelos”, que juntou pela primeira vez três vozes femininas naturais do concelho, mas com carreiras que já ultrapassaram fronteiras: Carla Cortez, Liliana Macedo e Vânia Leal.